sexta-feira, 19 de abril de 2013

Para Governo de Minas ter opinião é "desacato a autoridade"


Era para ser mais uma reunião de discussão de questões pedagógicas convocada pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais através da Superintendência Regional de Ensino. Mas terminou na delegacia de polícia da cidade, com o registro de um boletim de ocorrência. A suposta vítima seria a representante da Secretaria que, ao iniciar sua palestra, foi questionada por uma professora. O questionamento não fazia parte da pauta nem da metodologia da reunião e a representante do Governo se sentiu desacatada pela professora. E achou que a Polícia Militar saberia lidar melhor com questionamentos pedagógicos do que ela. No boletim de ocorrência a situação é relatada como desacato a autoridade.

A situação descrita parece algo do período da ditadura militar porque neste período as coisas eram resolvidas pela polícia, de maneira repressiva. Mas aconteceu em abril deste ano, na cidade de Monte Carmelo, com uma professora da rede pública estadual, que também é diretora estadual do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG). Não acreditamos em coincidências. A cidade tem forte histórico de organização sindical, de participação em movimentos reivindicatórios e a Subsede do Sindicato tem feito um intenso trabalho de visitas às escolas estaduais.

O que ocorreu demonstra o que temos denunciado nos últimos anos: a incapacidade do atual governo do Estado em dialogar e negociar com quem pensa diferente dele, a permanente prática de criminalizar a organização sindical no estado e o desrespeito ao professor.

Além do controle do tempo do professor com o estabelecimento de jornadas extenuantes de trabalho, a ordem agora é controlar o que pensamos. Se uma reunião pedagógica não é espaço para questionamentos, discussões e avaliações, qual o sentido de nos reunirmos? Qual o sentido da educação? O que pensadores da educação como Paulo Freire diria diante desta tentativa de mordaça e prática de intolerância em pleno período de democracia participativa?

Diante de tudo isso ainda é possível refletir que alunos não aprenderam sozinhos a agredir física e moralmente os professores, estão aprendendo com o governo. É assim também que se aprende a intolerância e o sentimento de eliminar quem pensa diferente. 

Beatriz Cerqueira
Coordenadora-geral do Sind-UTE/MG

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