A Central Única dos Trabalhadores (CUT/MG), os Movimentos Sociais e Populares e a Articulação Quem Luta Educa não puderam descer até à Praça Tiradentes, em Ouro Preto, neste 21 de abril, como em anos anteriores. Mas, nem mesmo as grades que cercaram e isolaram a cidade, bem como, o forte cercoda Polícia Militar foram capazes de impedir que a voz do povo - que grita contra as reformas da previdência e trabalhista e contra a terceirização sem limites, pudesse ecoar forte na terra dos inconfidentes.
Mais de 5 mil pessoas vindas, em caravanas de várias regiões do Estado, entre elas trabalhadores e trabalhadores em educação sob coordenação do Sind-UTE/MG, diversos sindicatos (Sindifisco/MG, Sindieletro/MG, Sindágua, Sindipetro/MG), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimentos dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), estudantes e jovens começaram bem cedo, às 6 da manhã, a se concentrarem na Praça da Rodoviária. E foi neste local que os manifestantes decidiram protagonizar a luta deste 21 de abril.
"Estamos aqui para fazer a nossa luta coletiva. O 21 de abril sempre foi para nós, classe trabalhadora, um dia estadual de protestos. Há muitos anos trazemos para cá as nossas pautas e reivindicações, sejam elas nacionais ou estaduais. Estamos hoje em Ouro Preto para protestar contra as reformas da previdência, trabalhista e contra a terceirização”, ressaltou a presidenta da CUT/MG e coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, Beatriz Cerqueira.
Ela lembrou as conjunturas de 2015 e 2016 para dizer que os profissionais da educação, em 2015, tiraram a decisão de descer em marcha até a Praça Tiradentes, durante o Congresso da categoria realizado em Contagem. Já em 2016, depois do governo de Minas ter atendido às cobranças dos/as trabalhadores e trabalhadoras/as em educação, a decisão de participar do 21 de abril foi motivada pela necessidade de fazer a luta contra o golpe e em defesa da democracia.
“QUEM TEM MEDO DO POVO?”
Mas, neste ano, o momento pede o esforço e a mobilização de todos e todas contra as reformas do governo Temer e para que o governo do Estado cumpra o que assinou e pague o retroativo aos servidores/as da educação. “ É essa a nossa luta. Acreditamos que a Praça Tiradentes deveria estar aberta à população. Quem tem medo da gente, quem tem medo do povo?", indagou a presidenta da CUT/MG.
Silvio Neto, coordenador do MST em Minas, também não poupou críticas ao que chamou de “governo golpista de Michel Temer”, destacando que, estar nas ruas e junto com outros segmentos da sociedade é uma estratégia dos trabalhadores rurais sem terra para fazer frente a esse “des”governo.
Nesse mesmo tom, Joceli Andrioli do MAB frisou o quanto é importante as pessoas acreditarem na força coletiva para derrotar Temer e suas reformas. Destacou a importância de o povo cobrar dos deputados federais que votem contra as reformas da previdência e trabalhista e relembrou o crime de Mariana ocorrido em 05 de novembro de 2015 quando o distrito de Bento Rodrigues sumiu do mapa e 19 pessoas morreram. “O mar de lama trouxe prejuízos e danos irreparáveis a toda a calha do Rio Doce em Minas e no Espírito Santo e até agora Samarco, Vale e BHP ainda não pagaram pelo crime que cometeram”, disse.
MEDALHA “QUEM LUTA EDUCA!”
Enquanto na Praça Tiradentes acontecia a entrega da Medalha da Inconfidência pelo governo do Estado; na Praça da Rodoviária, a Articulação Quem Luta Educa, CUT Minas e os Movimentos Sociais e Populares também faziam a entrega da Medalha “Quem Luta Educa” a pessoas comuns, lideranças sindicais e sociais que se destacaram ao se dedicar às causas coletivas e sociais. “A ideia é que a gente consiga resgatar com essa medalha a relevância do trabalho feito por essas pessoas e que muitas vezes são invisibilizadas, mas, nem por isso deixam de ser imprescindíveis. São lutadores e lutadoras do povo”, afirmou Beatriz.
Entre as pessoas homenageadas estão a D. Maria Gomes de Oliveira (80 a), do Acampamento Esperança, no Vale do Rio Doce, representando os aposentados e as aposentadas e que levou uma palavra de otimismo a todos os presentes. Ela disse que sentia orgulhosa e feliz pelo reconhecimento.
A menina de apenas 3 anos, Ana Amélia Sales, sem Terrinha da Ocupação da Fazenda do empresário Eike Batista, em Itatiaiuçu, representando as crianças que sobrevivem longe do olhar atento do poder público levantou os manifestantes com o seu grito viril por uma pátria livre!
Momento de grande comoção foi registrado durante a entrega da Medalha à Maira Gomes Soares, que, ainda menina, sobreviveu à chacina de Feliburgo, no Vale do Jequitinhonha. Há quase 10 anos, cinco trabalhadores sem-terra, foram assassinados em um acampamento e doze pessoas ficaram feridas, num crime encomendado pelo fazendeiro Adriano Chafik.
Outro momento marcante foi protagonizado pelo jovem índio Giovani Krenack que lembrou a luta de seu povo, que há milhares de anos vem sendo dizimado país afora e revelou que saiu de sua tribo para estar em Ouro Preto para se juntar à luta de todos. “Não é preciso dizer que os índios são parte esquecida neste país, mas, onde pudermos estar para levantar nossa voz, estaremos!”, disse.
As militantes do MAB, Regiane Soares Rosa Lourdes, nascida em Baixo Gandu, e Mirella Regina Lino de Sant´Ana, de Mariana, localidades das mais atingidas pela lama da Samarco Mineração, quando a Barragem de Fundão se rompeu, em 5 de novembro de 2015, ao receberem a Medalha “Quem Luta Educa” lembraram o quanto as famílias atingidas por esse crime da Samarco/Vale e BHP perderam e ainda estão sofrendo. Eles falaram da luta travada desde o rompimento da barragem para que todos tenham seus direitos garantidos e do descaso e desrespeito que ainda prosperam.
Eletricitário que perdeu pernas e braços durante um choque elétrico de grande voltagem enquanto trabalhava pela Contemporânea, empreiteira da Cemig, Milton Ribeiro Marcelino, também recebeu a Medalha “Quem Luta Educa”. Ele pediu a todos para não desanimarem mesmo se essa vontade ocorrer. “Sei que é difícil, mas, é preciso continuar a caminhada. Desejo a vocês, força e fé!”
SOMOS MAIORIA!
“Quando a senzala aprende a ler, a casa grande surta! Estamos aqui para dizer que somos pretos e pretas e não abrimos mão de nossos direitos, disse Makota Celinha, coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (CENARAB) e membro da Coordenação Nacional de Entidades Negras. Ela também recebeu a Medalha “Quem Luta Educa” e disse que é inadmissível, em pleno século XXI, em nosso país, de maioria negra, haver práticas de racismo e de intolerância de gênero, raça e cor. “Não vamos baixar a cabeça e vamos levantar nossa voz!”
Emocionada, a Secretária Nacional de Relações de Trabalho da CUT Nacional, Graça Costa, que foi a Ouro Preto acompanhar um amigo que seria condecorado com a Medalha da Inconfidência, disse que estar no ato do povo, junto com os seus companheiros e companheiras de luta, foi uma alegria imensa. “Receber a Medalha Quem Luta Educa é uma honra pra mim e quero continuar merecendo essa honraria pela luta do povo. Contem sempre comigo!”
Regina Cruz, presidenta da CUT Paraná, ao receber a Medalha Quem Luta Educa pela criação do “Coletivo 29 de abril do Paraná”, destacou o protagonismo de Minas na luta por uma educação pública de qualidade social. Ela lembrou a solidariedade dos mineiros e das mineiras quando o governo do tucano, Beto Richa, em 29 de abril de 2015, massacrou professores e professoras que faziam greve por melhores condições de trabalho e salariais. “Com vocês aprendemos a força do movimento quem luta, educa! E nos espelhando na experiência dos educadores e educadoras de Minas para criar o Movimento 29 de abril, cujo objetivo é juntar as vozes em nome educação.”
REPRESENTAÇÃO SINDICAL E SOCIAL
José Maria dos Santos, presidente do Sindágua, ao receber a Medalha “Quem Luta Educa” destacou a importância da luta coletiva para a garantia de direitos e disse que se sentia honrado com a homenagem.
Já a coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, professora Beatriz Cerqueira também ressaltou o significado da Medalha, afirmando que os trabalhadores e as trabalhadoras em educação são firmes e persistentes na luta. “A Medalha Quem Luta Educa pertence aos educadores e educadoras que jamais desistiram de acreditar numa educação pública de qualidade para todos e todas”.
O presidente do Sindifisco/MG, Lindolfo Fernandes de Castro, que também recebeu a comenda disse que o país vive um momento de distorção e perdas irreparáveis de direitos sociais e ressaltou a necessidade de se fazer justiça social e tributária àqueles que mais precisam.
Pelo Sindipreto/MG, Leopoldino Ferreira de Paula Martins, que também foi homenageado destacou a luta dos petroleiros e dos trabalhadores brasileiros para salvar suas riquezas e sua soberania. Já o coordenador-geral do Sindieletro/MG, Jefferson Leandro Teixeira da Silva, ao receber a Medalha “Quem Luta Educa” destacou a luta de sua categoria contra a precarização do trabalho e a terceirização, que mata um trabalhador eletricitário a cada 45 dias em Minas Gerais.
Pela Confederação Nacional dos Moradores (Conam), recebeu a Medalha, Daniel dos Santos e pela Macha Mundial de Mulheres, Edna Leite Ramos. Ambos ressaltaram a importância da luta coletiva para a garantia de direitos da classe trabalhadora e destacaram o quanto é preciso fortalecer a união de todos e todas em torno de uma pauta comum.
MÍDIA DESTAQUE
Pelos revelantes serviços prestados, pelo compromisso de divulgar os fatos como eles são e pela cobertura diária das demandas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais e sindicais, foram homenageados com a Medalha “Quem Luta Educa” o Jornal Brasil de Fato e a Mídia Ninja.
O Brasil de Fato foi lançado, nacionalmente, em janeiro de 2003 e hoje possui regionais no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em São Paulo, no Paraná e em Pernambuco e contribui no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país.
Já a Mídia Ninja - Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, tem atuação em mais de 150 cidades no Brasil e se posiciona como uma alternativa à imprensa tradicional.
O ato público promovido na Praça da Rodoviária contou com presença do cantador, violeiro e compositor, Pereira da Viola, referência da música mineira do Vale do Jequitinhonha, que também recebeu a Medalha “Quem Luta Educa”. Ele abriu o evento dedilhando o Hino Nacional em sua viola e continuou a animar o público até o final das atividades, que foram encerradas no final da manhã.
Fotos: Lidyane Ponciano