terça-feira, 2 de setembro de 2014

VII Conferência Estadual de Educação - Sind-UTE/MG comemora 35 anos reunindo mais de 1.600 delegados e delegadas eleitos nas escolas e Superintendências Regionais de Ensino

(Caxambu participou da conferência com uma delegação de 6 trabalhadores em educação eleitos pelas escolas Ruth Martins, Domingos Gonçalves e Cabo Luiz de Queiroz, como também pela SRE)
“Uma outra educação para Minas é possível”. Foi com essa certeza que cerca de 1.600 delegados e 400 convidados participaram da VII Conferência Estadual da Educação, promovida pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), em Contagem, dias 30 e 31 de agosto último.
A Conferência foi também espaço oportuno para a celebração dos 35 anos do Sind-UTE/MG, que recebeu educadores vindos em caravanas de todas as regiões do Estado, estudiosos e especialistas da área, representantes de movimentos estudantis, sociais, populares, entre outros.
Foram dois dias de muitas discussões e debates calorosos permeados por místicas e intervenções culturais, que

ficaram a cargo do animado Levante Popular da Juventude e do simpático comediante e humorista Carlos Nunes.
Ao fazer o convite para esse momento histórico de discussão e reflexão, o Sind-UTE/MG Fez um recorte no tempo para trazer - nas comemorações de seus 35 anos - um olhar especial sobre a luta protagonizada pelos trabalhadores e trabalhadoras da educação pública mineira.
As três décadas e meia de história do Sindicato foram recontadas em cenas que retrataram a luta dos companheiros e companheiras que fizeram e fazem o dia a dia da educação em Minas Gerais. 
E porque o Sind-UTE/MG acredita que outra educação para Minas é possível.Certamente, por vários motivos, entre eles, a afirmação de que a bandeira desse - que é um dos maiores sindicatos do Brasil - não se limita apenas ao embate sindical por melhores salários e condições de trabalho.  O Sind-UTE/MG também é propositivo quando o assunto refere-se ao exercício da cidadania.
“Nossas pautas de reivindicações demandam questões que vão do acesso, à permanência na escola, à interlocução com a comunidade escolar e com os mais diversos segmentos sociais e populares, passando, necessariamente pela qualidade da educação. Em outra frente,  também fazemos a luta de classe, do ponto de vista das demandas políticas que interferem no cotidiano de nossa base”, afirma a coordenadora-geral do SInd-UTE/MG, Beatriz Cerqueira.
Postura crítica
Desde que o modelo do choque de gestão foi feito no Estado, por exemplo, o Sind-UTE/MG tem mantido um olhar crítico sobre as políticas públicas da educação (ou a sua ausência), os programas de governo e os indicadores de qualidade. Percebem-se por meio de estudos feitos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), relatórios do Tribunal de Contas do Estado, e mesmo as publicações oficiais do governo que a realidade da educação é bem diferente do que é retratado pela propaganda oficial.
Desde 1979, o Sindicato denuncia as precárias condições de trabalho dos educadores em Minas Gerais, a falta de estrutura física das escolas e de vagas na educação básica, a destruição da profissão docente no Estado e da escola pública mineira e a tentativa de governos (in)competentes, negligentes e omissos, que insistem em censurar os educadores através da mordaça da pedagogia do medo. É no contraponto a tudo isso, que o Sind-UTE/MG vem há 35 anos fazendo uma luta propositiva.
Por dias melhores
Essa trajetória foi, a todo tempo reafirmada pelos educadores mineiros, durante a VII Conferência Estadual de Educação do Sind-UTE/MG. De maneira unânime, os membros da mesa de abertura desse encontro afirmaram acreditar numa outra educação para Minas Gerais.
 O professor de língua portuguesa, Luiz Soares Dulci, 1º presidente da União dos Trabalhadores do Ensino (UTE) e ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, se alegrou ao rever tantos colegas e amigos dos tempos de outrora. “Encontros como esses, promovidos pelo nosso Sindicato nos dá a oportunidade do convívio. É para mim uma imensa alegria estar aqui com todos vocês."
“Lembro-me bem da greve de 79, quando os educadores se uniram, de uma maneira muito intensa no interior do Estado - não só os professores, mas os serventes, os cantineiros, os faxineiros, enfim, todos os educadores. Foi um movimento espontâneo, que nasceu de baixo para cima. Não tínhamos liderança. Foi o movimento que criou as lideranças e era essa a nossa força”, disse Dulci fazendo recomendações para que os trabalhadores em educação permaneçam unidos em prol de seus objetivos.
 Primeira mulher a assumir a presidência da UTE e primeira presidenta do Sind-UTE/MG, a professora de física, Rosaura de Magalhães Pereira, destacou a determinação dos educadores em criar um Sindicato do zero. “Tínhamos dificuldades de toda ordem. Não tínhamos dinheiro, muito menos infraestrutura, mas, tínhamos uma coragem imensa de fazer a luta. O Sind-UTE/MG já nasceu fazendo sua a causa da educação. Não só por melhores salários e condições de trabalho, mas por tudo aquilo que se compartilha com o aluno."
Outra força desse Sindicato foi o fato de se estruturar, desde o início, por ramo de atuação, o que fortaleceu a sua base e direcionou sua forma de pensar e agir. “O que tem de bom hoje na educação somos nós que estamos fazendo”, disse Rosaura ao pontuar que o Sindicato é o sujeito coletivo, o instrumento pelo qual os trabalhadores em educação irão se fortalecer na luta pela valorização profissional e por dias melhores para todos e todas.
Parabéns!
  “Em nome de todos os trabalhadores em educação do Brasil, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNTE), Roberto Franklin Leão, deu boas-vindas aos conferencistas e lembrou momentos de embate entre o Sind-UTE/MG e os opositores a uma educação pública valorizada em Minas Gerais.
“Temos aqui uma das entidades sindicais mais aguerridas e uma das mais corajosas categorias de trabalhadores de nosso país. A história do Sind-UTE/MG precisa ser contada e recontada, pois vocês foram capazes de organizar os trabalhadores numa histórica greve de 112 dias e fazer o enfrentamento a um governo que quer destruir a educação pública”, lembrou.
Ao mesmo tempo em que teceu elogios, Leão conclamou a todos a fazerem um olhar crítico e o debate político que o momento requer. “Precisamos ter a consciência de que não dá para eleger candidatos não comprometidos com a nossa causa. Queremos uma educação pública de qualidade, Piso Salarial, valorização na carreira, uma escola pública digna para os trabalhadores e filhos dos trabalhadores. Por isso, temos sim que exercer o nosso papel político. Façamos o debate sem medo, por um país igualitário, por uma educação pública que valorize o educador e os alunos. Uma educação solidária, democrática e participativa.”
Alegria e orgulho
 Os 35 anos do Sind-UTE/MG também foram reverenciados pela vice-presidenta da Internacional da Educação para América Latina (IEAL), Fátima Silva. “Sou, nesse momento, alegria pura e me orgulho de estar aqui ao lado da Rosaura, do Dulci e de todos vocês para celebrar tão importante data. Na pessoa da Bia, levo meu abraço a todos os educadores mineiros."
A conferência, além de abordar temas da atualidade e de colocar no centro do debate o desejo por outra educação pública para Minas, foi palco de discussões acerca da autonomia pedagógica. E nesse aspecto, Fátima Silva se lembrou dos projetos nos âmbitos federal, estadual e municipal, a exemplo do Plano Nacional da Educação (PNE) aprovado no Congresso Nacional e da Conferência Nacional da Educação (CONAE). “Precisamos da força da nossa união para que possamos fazer valer os 10% do PNE para a educação e tornar realidade os apontamentos das Conaes”, alertou Fátima Silva, buscando inspiração em Gonzaguinha para dizer que acredita na rapaziada, na luta da juventude, que sonha, acredita e constrói a manhã desejada.
É preciso fazer a escolha certa
 “Temos hoje no Brasil dois projetos: um de inclusão social, por uma educação pública melhor para todos e outro, de exclusão da classe proletária. E diante disso, não podemos nos omitir, precisamos escolher de que lado queremos ficar”, disse opresidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.
Ele lembrou que a pauta dos trabalhadores no âmbito nacional andou menos do que era para andar, mas não há dúvidas de que o país e a educação avançaram com as políticas implementadas na gestão atual. “Nos últimos doze anos, o governo federal fez mais para o Brasil do que fizeram em 500 anos”, destacou. Em contrapartida, segundo Freitas, aqui em Minas, a educação andou para trás. Nos últimos anos, os servidores públicos sofreram muito com a política do descaso e da desvalorização profissional. Mas, o Sind-UTE/MG foi incansável na sua luta em defesa dos direitos dos trabalhadores em educação. “Por tudo isso, essa entidade é símbolo de resistência e exemplo para todos nós." 
 O vice-presidente da CUT Minas, Carlos Magno, também referenciou os 35 anos do Sind-UTE/MG destacando a coragem e a disposição dos educadores em não medir esforços para garantir seus direitos. Lembrou a necessidade de essa bandeira continuar de pé para que o retrocesso não encontre portas abertas. “Ousadia política e utopia na perspectiva coletiva de fazermos valer nossos sonhos é o que desejo a todos." 
Mas a força do conjunto de trabalhadores emana da participação de cada um. “Vivemos agora momento oportuno para fazermos a transformação de que precisamos. É hora de escolhermos o lado certo, aqueles que estão comprometidos com a causa da educação. É assim que vamos avançar nos planos educacional, político e social”, disse asecretária de Formação da CTB, Celina Areias, que se emocionou ao ver em vídeo a combativa história dos educadores mineiros.
Pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Osvaldo Samuel Costa Santos, lembrou a Comuna de Paris -  resultado da luta da classe operária francesa e internacional contra a dominação política da burguesia–  que teve como um de seus pilares a luta pela educação.
“Depois de dois séculos de revolução, a luta que continuamos a travar no Brasil ainda é a da educação. Companheiros e companheiras, o MST está na fileira da marcha pela valorização dos educadores, queremos reforçar o esforço e movimento de vocês dentro e fora da escola. Não é o estado, nem o governo das classes dominantes que vão fazer as transformações de que precisamos, somos nós trabalhadores que faremos isso."
“quando a verdade for flama
nos olhos da multidão,
o que em nós hoje é palavra,
No povo vai ser ação.”
Thiago de Mello
Vamos à luta!
  “A luta que se perde é aquela que foi abandonada! Muito vale o que foi feito, nos ajuda a manter a caminhada, a utopia”.Do agradecimento a todos pela presença um convite especial para que ninguém saísse da VII Conferência Estadual da Educação sem a garra e a determinação de continuar a luta  e “alimentados pelo sentimento da partilha”. Foram essas as mensagens da coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, Beatriz da Silva Cerqueira, que reafirmou o significado dos vocativos companheiro e companheira: “é assim que a gente partilha, a luta, as dificuldades, os desafios, o pão ou a falta dele, a coragem e os nossos medos, o sonho e a esperança.”
E se há esperança de um dia a educação pública mineira estar no lugar em que ela merece esse momento só deverá ser real se houver disposição para a luta e disposição para resistir. “A nossa educação chegou ao caos. Esses últimos anos foram de muitas dificuldades, criminalização e judicialização de nossos movimentos. Um embate tão pesado, de dar inveja à ditadura militar”, lamentou Beatriz Cerqueira.
Para além da defesa intransigente dos direitos dos educadores e por uma educação pública de qualidade social, a coordenadora-geral do Sind-UTE/MG destacou o papel e a importância dos educadores e do Sindicato na construção da CUT e da CNTE, na articulação com os movimentos sociais e populares - juventude, MST, outras entidades sindicais, movimento Quem Luta Educa e tantos outros que têm contribuído com os educadores mineiros na defesa intransigente por uma outra educação para Minas.

A criminalização e a judicialização das lutas do movimento sindical também foram destacadas como um dos instrumentos de repressão utilizados pelo atual governo para tentar calar a voz dos trabalhadores, em especial, da educação. “Já são 7 representações e 3 liminares do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) contra o trabalho de esclarecimento através da mídia que estamos fazendo. Não temos, sequer, o direito de dizer o que aqui estão fazendo contra a classe trabalhadora. Mas, nós não vamos nos intimidar, não vamos desistir!”, disse Beatriz Cerqueira.

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